Pense no seguinte fato: ao entrar em uma turma de
crianças entre 3 e 5 anos você percebe o prazer que têm ao manusear um livrinho
de histórias, há aquelas que, apesar de ainda não saberem ler, passam o dedinho
pelas palavras e inventam, de acordo com as gravuras, contos fantásticos. Nesta
mesma escola, ao entrar em uma turma de adolescente de 13 e 14 anos, você
pergunta quantos têm o hábito da leitura e o que acontece? Fica perplexo ao
saber que não chega a 20% dos alunos. O que aconteceu? O que foi feito, então,
para que o gosto pela leitura se dissipasse?
A resposta está na forma como foi
trabalhada a leitura durante do primeiro segmento do Ensino Fundamental. Por
ser vista como a mais prática pela grande maioria dos educadores por causa da sua
característica predominante que é a imediata interpretação de símbolos e
conhecimento do significado das palavras, a concepção reduzida de leitura, torna-se
o alvo certo na escolha do “como trabalhar a leitura na sala de aula”. O uso
pedagógico da leitura da forma tradicional que faz os alunos lerem um livro
pela obrigação da prova que irão fazer, inibe o gosto pela leitura, já que a
preocupação maior se centraliza em como responder o que é esperado pelo
professor. O que dizer então quando tudo isso mistura-se ao fato das crianças terem que ler o que lhes é imposto pelo professor que, muitas vezes, no momento de escolher os
livros não tem muitas opções já que a pronta entrega é o critério principal na maioria das escolas.
Vejamos
agora outra situação: e se os alunos tivessem garantidos os 10 direitos
imprescritíveis do leitor, escritos por PENNAC em seu livro Como um romance, a começar pelo direito
de não ler?! Como a escola reagiria ao perceber que pular as páginas pode fazer
parte do princípio do prazer? O que
fariam os professores ao se depararem com alunos escolhendo o que e onde ler?
Imagine a cena: “Professora, eu queria ler este livro em voz alta para os meus
colegas, mas tem que ser lá no refeitório, na hora do lanche! ”
Ah, se respeitássemos a amplitude das interpretações dos alunos e não a usássemos somente
para fins ortográficos e gramaticais, assim teríamos, como diz Vânia Maria
Resende, a leitura como um ato de abertura para o mundo.
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