Partindo da leitura do artigo do Prof. Dr.
Marco Antonio S. Salvador Corpo econtrole no cotidiano escolar, entramos em conflito com o que recebemos da
nossa instituição de ensino enquanto alunos e nos deparamos com a necessidade de
anularmos os conceitos adquiridos ao longo de toda a nossa vida escolar tradicional
para, agora na posição de professor, promover a educação de forma integral. Algumas instituições escolares, mesmo nos tempos atuais temem perder o controle de seus
alunos e por isso impõem regras ultrapassadas para manter a ordem, porém sabe-se
que quando há autoridade (não autoritarismo), respeito e sabedoria por parte da
escola, nada pode ameaçar o controle, nem mesmo o corpo. Professores que tem por objetivo conquistar a
confiança do seu aluno utilizam todas as formas de aprendizado, sabemos que é algo ainda em processo, pois a ideia de disciplina está ligada a alunos quietos em suas carteiras. No artigo citado encontramos ainda a seguinte
afirmativa: “...outro fato geralmente negligenciado na cultura escolar é a
construção do conhecimento sem a percepção da importância do vínculo afetivo”. Segundo
Piaget, o afeto desempenha um papel essencial no desenvolvimento da
inteligência, a comunicação entre alunos e professores dentro de um clima de
confiança e afetividade promove o aprendizado espontâneo, esta afetividade
promove a solidariedade e a cooperação.
Em uma turma de 6º do EF pude vivenciar esta experiência.
Ao perceber a dificuldade de alguns alunos com o aprendizado, organizei a turma
em grupos heterogêneos para que se ajudassem durante a aula. Numa turma de 25
alunos montei 5 grupos e o critério na escolha dos participantes de cada grupo foi
o desempenho nas avaliações e a participação na aula. Cada grupo tinha um aluno com nota máxima, outro
com facilidade de comunicação, e os outros três eram os regulares ou em processo
de alcance dos objetivos. Deixando-os livres para escolher de que forma iriam
trabalhar, notei que os mais comunicativos naturalmente assumiam a liderança,
mesmo que não fossem os melhores em notas, mas com a sua capacidade de
envolver os colegas faziam com que todos se ajudassem. O resultado foi a
diminuição das diferenças na turma, a participação mais efetiva dos alunos
“fracos” nas realizações das atividades propostas (uma vez que, agora eles
tinham o incentivo dos colegas) e uma turma mais solidária, pois aqueles alunos
que recebiam ajuda se sentiam motivados a ajudar os colegas em outras matérias
em que se sentiam mais “fortes”.
Quanto à dicotomia entre corpo e mente que a sociedade insistentemente impõe como regra ao educador, podemos afirmar que é infundada,
pois é notório como a aula flui prazerosamente e mais eficaz quando as crianças
recebem permissão para se “desamarrarem” da cadeira. Trabalhando com as turmas
do Pré até o 5º ano percebe-se bem como gostam dos momentos em que podem
mostrar com o corpo o que estão aprendendo. Conteúdos simples como a aquisição
do vocabulário dos nomes dos animais na língua inglesa são rapidamente
absorvidos se eles podem imitar os bichos, fingir que estão numa floresta,
entre outras brincadeiras.
Há diversas formas de transformar o ambiente
escolar numa experiência prazerosa; já que os conteúdos precisam ser dados,
cabe ao professor inserir as atividades corporais no planejamento com o intuito
de fixá-los e trazer junto com eles novos conhecimentos.
Um bom exemplo foi uma atividade realizada com os alunos do 1º ano EF: Where is he/she?, nela uma criança faz a
pergunta e uma outra responde com gestos (se ela estiver no quarto, pode fingir
que está dormindo ou pegando uma roupa no armário); o restante da turma tem que
responder: He/She is in the bedroom.
O interessante nesta atividade foi o fato de as crianças, além de treinarem o
uso do He/She e assimilarem o
vocabulário das partes da casa em inglês, trabalharem a questão da estrutura
familiar; eles entraram em questionamento quando um menino precisou fingir que
estava cozinhando e outro lavando louça. Os debates começaram no “isso não é tarefa de homem, é para
mamãe ou para a vovó” e terminaram a discussão em “todos devem cooperar, meninas e
meninos”.
Se de um
lado devemos promover atividades corporais, devemos também ter o cuidado com o
rumo ao qual elas podem nos levar. Competições são estimulantes, porém
despertam rixas e sentimentos de superioridade ou inferioridade, o que não é
desejável para o momento educativo. No artigo Competição ou Cooperação, o teólogo Leonardo Boff mostra que para
ser eficaz a competitividade deve ser agressiva, é necessário fazer com que os
outros percam para se obter a vitória e aí vem a pergunta: onde fica a
cooperação nisso tudo? Dentro dos grupos que cooperam entre si para eliminar o
grupo adversário? Não posso atacar a competição como se ela fosse o maior dos
males, acredito que até certo ponto (e tenhamos muito critério neste “certo
ponto”) ela até pode ser benéfica,
mas cabe ao educador não utilizá-la com frequência.
Concluo que educar
integralmente significa mover todas as partes do ser humano, física e mental em
prol do bem comum, seja ele dentro ou fora da escola.